sexta-feira, 10 de maio de 2019

ESTRESSADO, EU?

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Contas à pagar, salário curto, problemas com relacionamento, trânsito, faculdade, falta de clientes, professor que não responde e-mail com TCC, trabalho-estudo-faculdade, ônibus lotado, metas a bater, horários a cumprir... A todo momento estamos sendo estressados...

O estresse está em todo lugar... Um pouco de estresse é até OK, e até benéfico, porém, o estresse constante, pode causar danos ao indivíduo em diversas áreas da vida, mas, mais especificamente na saúde mental, física e emocional.

Então, vamos direto ao assunto...

O QUE É ESTRESSE?

Estresse é a resposta do corpo a uma situação consciente ou inconscientemente prejudicial. Esta reação advém do sistema primitivo de proteção, onde o corpo se prepara para uma luta ou fuga. São sintomas nítidos da reação ao estresse, o aumento dos batimentos cardíacos, respiração ofegante, sudorese, contrações musculares, dentre outras. Como dito anteriormente, pequenas doses de estresse são saudáveis, pois nos levam a reagir prontamente em situações de perigo, como por exemplo, frear o carro ante um possível acidente.

Mas e quando o estresse se torna algo ruim?

A resposta é simples: quando as situações de estresse são contínuas e intensas. Estar sob fortes cobranças no trabalho, ter prazos apertados para entregar relatórios, trabalho, ou bater uma meta, quando o trânsito para ir ou voltar do trabalho não coopera, quando o relacionamento está fragilizado, quando há acumulo de funções... Este e outros elementos são como "gasolina no fogo" para o estresse.

COMO IDENTIFICAR OS EFEITOS DO 'MAU' ESTRESSE?

Como falamos anteriormente, o estresse tem efeitos comportamentais, emocionais e físicos. Vamos dar algum exemplos de reações do corpo nestas três esferas da vida humana.

- Alergias e doenças de pele
A pele é um dos principais órgãos afetados pelo estresse. Ela é alvo de irritações (dermatites) que surgem em formas de pequenas bolhas, manchas vermelhas e ásperas e tem a coceira como principal elemento.

O estresse também pode causar seborreia/caspa, vermelhidão e coceira nas laterais do nariz, sobrancelha e etc.

- Gripe ou adoecimento recorrente
O estresse ataca e fragiliza o sistema imunológico, deixando o corpo suscetível a infecções. Desta forma, é recorrente as dores no corpo, a indisposição, a coriza, dentre outros.

- Diminuição da energia e insônia
Como vimos anteriormente, o estresse colocar o corpo em constante alerta para livrar-se ou brigar com um inimigo iminente. Desta foma, o corpo gasta mais energia, e mantém-se mais vigilante para proteger-se dos "perigos".

O sono é a ferramenta de refazimento do corpo. E o quadro de insônia, rouba a capacidade de reestruturação de seu funcionamento normal, afetando assim, a mente, o corpo e as emoções.

- Alterações da libido
A libido é a energia propulsora do sexo, que motiva a excitação, o desejo, o prazer e a satisfação. Pesquisas indicam que o indivíduo sob forte estresse tem diversos níveis de redução na libido e consequentemente efeitos na autoestima, na relação com parceiro dentre outras coisas, aumento no nível de cobranças e da auto percepção.

Sexo é vida, e é um dos elementos que gera prazer e satisfação. Desta forma, distúrbios na libido precisam ser relatados ao seu psicólogo, terapeuta sexual, médico ou especialista em urologia.

- Problemas digestivos e alterações no apetite
Constipação (intestino preso), diarreia, úlceras, gastrites, inchaços, são efeitos do alto nível de estresse.
O acompanhamento psicológico é fundamental para o diagnóstico e o tratamento do estresse, em parceria com médicos clínicos e psiquiatras.


E o apetite, em?

O estresse altera o apetite, levando a redução ou aumento da apetite.

Estudos revelam, que os altos níveis de estresse levam ao aumento do apetite, e consequentemente o aumento de peso e a obesidade. O estresse aumenta a produção do hormônio grelina, que inibe a saciedade, aumentando assim a ingestão de alimentos e ocasionando o aumento de pesos, além da produção de cortizol, que gera acúmulo de gordura abdominal.

- Irritabilidade
É natural que devido o desgaste derivado do estresse, as pessoas fiquem mais explosivas, intolerantes e irritadiças, causando transtornos nas relações interpessoais.

- Baixa concentração
Devido ao esgotamento ocasionado pela insônia e a incapacidade de regeneração adequada do corpo, a concentração altamente afetada, e podem ser percebidas reduções nos rendimentos em diversas áreas.

- Bruxismo
É comum muitos pacientes chegarem ao consultório reclamando de dores no maxilar,
dentes trincados, desgastados, amolecidos e dores no pescoço e na face. Isso se dá devido ao ato de ranger os dentes durante o sono. Em resumo, as tensões do dia são descarregadas na mordida.


- Sudorese
A sudorese é o aumento dos níveis de suor e odor produzidos pelo indivíduo em situações, atípicas. 

O estresse e a ansiedade são causadores da sudorese, mas também é importante observar as condições ambientais, de tireoide e uso de medicamentos.

Em resumo

Nesta publicação, falamos um pouco sobre estresse e seus sintomas. É super importante estar atento a estes e a outros elementos disfuncionais, para cuidar da forma adequada do problema.

Procurar ajuda do psicólogo é fundamental, para um bom diagnóstico e terapêutica adequada. Lembrando que, o estresse é ocasionado por diversos fatores. Então, uma terapêutica adequada, envolve mudança de hábitos, readequação alimentar, e algumas vezes ajuda medicamentosa.


Luan Lins
Psicólogo Clínico
CRP 02/19877
(81) 99616-9271
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sábado, 12 de novembro de 2016

CRÔNICA: O DUPLO CORTE NA CARNE DA ALMA

Delicadamente passa a mão fechada pela navalha de duas lâminas, sentindo um suave arrepio pelo corpo sentindo. Sobre a palma da mão dois cortes simétricos que se misturam em uma única mancha de sangue. Um a representar as próprias vísceras, a própria carne; outro a representar uma agressividade contra o mundo ao redor, contida, a se voltar, impiedosa, insustentável, remoendo o corpo da mão cortada. Uma única mancha de sangue.
Nasceu assim como todo mundo. Um pequeno conjunto biológico com fome e com sensações fisiológicas completamente desorganizadas. Ao mamar, além do leite, foi familiarizando-se com o humano, à revelia, ocupando um lugar predestinado de pessoa pobre e submissa ao poder do outro forte. Como todo mundo, as sensações fisiológicas foram se organizando contra a vontade, em um primeiro trauma, em um primeiro conflito, costumeiramente denominado de desenvolvimento sexual normal. Um pequeno impasse acompanhou já desde a infância. O que é ser normal? Indignação e revolta, não mais como todo mundo, no largar o prazer do corpo todo e submeter-se entre a mãe submissa e o pai violento. Uma luta interna marcada pela violência de não resignar-se, intolerante à submissão, intolerante à agressividade. E a intolerância encontrou-se com o ódio. E o ódio ficou no avesso do que foi, reprimido e latente.
Não me ouve quem me diz ‘pense positivo’, pois não vive a vida dentro de mim.
No resto, sobrou a pergunta eterna de uma existência inteira. Por que a primazia do gênero e do genital se o corpo inteiro é prazer sensível? Por que não poder ser menino e menina? Uma única mancha de sangue no corte simétrico na palma da mão. Por que do preconceito percebido desde cedo demais? O mundo impõe-se e a reação não tarda. No amadurecer opta por lutar, fazer prevalecer-se.
E assim foi crescendo, entre socos e pontapés, em um corpo polimorfo, erotizado, com ojeriza de gente. Na incompreensão de si, na luta imersa no conflito, o compromisso foi um delírio persecutório, um quadro de horror e surrealidade, de repulsa e atração simultânea ao sexual.
Não me ouve quem me diz ‘seja feliz’, pois não vive a vida dentro de mim.
Naquela sala estranha, não de repente, o estranho foi tomando forma de discurso. Uma fala tímida e agressiva aos dois da sala foi esboçando-se em história a ser contada. Enfim, era possível começar as respostas de certas perguntas. Duas manchas de sangue a formar uma única aquarela. Colorida. Todas as cores são coloridas. Não só rosa. Não só azul. Não só cinza. E a paleta trouxe a tela, e a tela a compreensão de si/mundo de si/mundo para si. E a dor não passou...
Sabe... Quando eu acreditava que o terror se encontrava dentro de minha cabeça era mais fácil... mais fácil. Saber que está no mundo, é desconfortável... Antes era mais fácil.”
E vai vivendo a vida do jeito que dá. Às vezes, ao olhar a palma da mão, duas pequenas cicatrizes simétricas surgem onde não há mais sangue. Made in Mundo Humano.

MARCOS INHAUSER SORIANO é psicanalista.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

CRÍTICA DE UMA TRADUÇÃO ILUSÓRIA


Por Marcos InHauser Soriano

Lá vai Joana a correr pela praia, cabelos soltos ao vento, pezinhos descalços a tocar a areia, inquieta e livre, parando de repente a pescrutar o mar. O mar também sofre da mesma inquietude, às vezes revolto, às vezes em tranquila calmaria. Joana é mar.
Através da escrita, Clarice Lispector cria a inquieta Joana, em “Perto do coração selvagem”. Joana vai ser assim, inquieta por toda a obra, sempre perto, apenas perto, sem alcançar o selvagem do coração. O mar vai rodear Joana em toda sua existência, através da escrita de Clarice.
Toda obra literária retrata, clara ou enigmaticamente, um pedaço, um recorte do cotidiano humano. Joana cria Clarice, enquanto Clarice vai criando Joana. Um profundo “romper o cerco das coisas” em um ato de mergulho vertical em autêntica transferência entre Joana, Clarice e o leitor de “Perto do coração selvagem”.
Se existe alguma intencionalidade em Clarice? Se existe alguma intencionalidade em Joana? Talvez caiba ao leitor, o trabalho de fantasiar a intencionalidade, em tentativa de traduzir Joana/Clarice a seu modo, individual e único, portanto imperfeito quanto à direção correta de tradução, sempre apenas perto do selvagem do coração.

Marilene Carone, em seu brilhante esforço de tradução de alguns artigos de Freud, nos apresenta, com sinceridade, a dificuldade de tal intento. Utilizo aqui “Luto e melancolia” como exemplo. Traduzir Freud é tentar entrever Viena, localizar o autor no devido contexto histórico de uma época, conhecer profundamente o “jeito” da escrita alemã – tão diferente da nossa -, tentar mergulhar na forma criativa e científico-artística do fundador da Psicanálise. Traduzir Freud é tentar sê-lo apenas de perto.
O próprio Freud nos revela a dificuldade de traduzir a resgatada nomenclatura “melancolia”. Freud sabe e comunica que conseguirá apenas tocar de perto os andaimes que tecem a melancolia, em seus aspectos depressivos e maníacos.
Mesmo Freud, na tradução de Marilene, encontra-se apenas perto da compreensão da melancolia.

Chega dizendo de um estranhamento, um choro assim, que aparece do nada, um choro apenas chorado.
Ao meu silêncio, ao me negar a oferecer qualquer representação, qualquer tradução pronta, o estranho do choro chorado vai buscando formas de minimamente esboçar-se.
De início um atrito resistencial de encaixe de qualquer coisa que represente o estranho. Nada serve, falta. Surge um choro chorado que representa falta. Mais uma vez, sou convidado, intimado a traduzir. Recuo, suportando a angústia que também me atinge. Vejo-me, na falta, a chorar um choro chorado. Se tivermos paciência, o choro chorado da falta há de falar, explicar-se, se fazer entender, traduzir-se por si.
O que falta? Que possamos manter a inquietude de Joana a perscrutar o mar. Que sustentemos a posição de estarmos apenas perto disso estranho, pois que o estranho é inquieto e fugidio feito Joana. Que deixemos que “surja” o sentido da falta. Que escapemos do apelo ilusório de traduzir para, no mergulho vertical da transferência, interpretar.
Interpretar não é traduzir. Interpretar é encontra-se apenas perto, suportar que disso nada há para o saber da razão – Joana a perscrutar o mar.
Traduzir seria apontar um caminho certo, correto, frente a sentidos equivocados. Caminho certo para quem? Caminho correto de quem? Um comportamento adequado talvez?

Interpretar é assim um pequeno movimento de desencontrar o sentido estabelecido, sem certo ou errado. Uma ruptura de sentido, um desencontro do discurso, um movimento sutil a promover o surgir de sentido outro, deste que chora o choro chorado da falta. Interpretar é um ato falho a dois, um momento cômico a romper o engessamento do que se foi sem mais ser. Interpretar é aproximar-se de Joana a perscrutar seu mar, aguardando que o mar de Joana fale para ela, para Clarice, para nós.