quinta-feira, 30 de outubro de 2014

ENSAIO: O ENGODO E O TEMPO


 




















Por: Marcos InHauser Soriano



Em suas implicações, a deformação de um texto assemelha-se a um assassinato: a dificuldade não está em perpetrar o ato, mas em livrar-se de seus traços.” (SIGMUND FREUD, 1939)


Em seu “Der Mann Moses Und Die Monotheistische Religion: Drei Abhandlungen”, publicado em 1939, Freud tece críticas sobre a reconstrução, às vezes no intuito de falsificar “objetivos secretos”, de uma história primitiva, utilizando-se dos primórdios do povo de Israel. Com a interpolação ficcional de “se Moisés fosse egípcio”, Freud faz saltar da história contada, perdida no tempo, um duplo Moisés, condensado no herói hebreu, e um duplo Javé, condensado no Deus da aliança monoteísta. Tudo no texto histórico passa a ter duplos: personagens, deuses, lugares sagrados, e intenções. O próprio texto freudiano, que começa a ser redigido em 1934, sofre da armadilha, às vezes em prol de melhoras, às vezes em prol de adequações.

O mundo mental humano funciona de igual maneira. De sua história primitiva o homem nada sabe; os primórdios de sua história pessoal são uma reconstrução, às vezes criação de memórias, que preenche vazios, desfaz lacunas, reinventa um bebê que, em verdade, é projeção do olhar adulto. A memória nasce na passagem da criatura biológica à criatura humana. “Objetivos secretos” são expulsos do pensamento tido “normal”.

Nossas instituições funcionam de igual maneira. Do texto original, que se perde ao longo do tempo, pouco sobra de originalidade. As instituições humanas também falsificam sua história, às vezes em prol de melhoras, às vezes em prol de adequações que escondem “objetivos secretos” - propositalmente.

O povo não tem memória” é uma ideia bastante difundida por aqui, em nossa saudosa Terra Brasilis. Interessante conjugar a ideia com o fato de que, levando-se em consideração propostas de todos os tipos, geralmente a escrita torna-se incompreensível, repleta de dados estatísticos e siglas que pouco dizem ou esclarecem sobre o assunto discutido. Com o tempo, a própria fala se perde completamente, recriada por uma virtualidade midiática que, praticamente, reinventa novamente nova história. E assim vamos em frente: “Quem conta um conto, aumenta SEU ponto”.
Interessante também, conjugar a ideia com outro exemplo. Poucas pessoas se debruçam, ou mesmo têm conhecimento, de que as Sagradas Escrituras, compiladas na Bíblia, intencionam ser a transmissão da palavra de Deus. Mas qual Deus? Quando levamos em conta a questão histórica, política, religiosa e, principalmente, toda a problemática envolvida na tradução ocidental que temos do texto bíblico, ficamos com o mesmo desconforto: “Quem conta um conto, aumenta SEU ponto”. A “Palavra” diz o que a escrita deformou – como aponta Freud, em 1939.
Neste sentido – e não é ao acaso que utilizo como metáfora o texto bíblico -, nem a escrita de Freud escapa do engodo. Não só encontramos a problemática, aparentemente resolvida, de anos de Standard Edition (tradução para o a língua portuguesa, não do alemão original, mas do inglês de Anna Freud), como também passamos pelo uso e compreensão diversos, que contemplam os templos da guerrilha escolástica que predominou nas instituições psicanalíticas – uma verdadeira “Torre de Babel” (se é que a história tem alguma procedência, que fique claro). Normalmente, ao discutir conceitos e a própria clínica, tratando da importante questão do que faz a Psicanálise e do por que funciona, caímos no velho ditado: “Quem conta um conto, aumenta SEU ponto”.

A citação freudiana de 1939, bem poderia ter sido de Dostoiévski, na boca de sua criação, o jovem estudante russo Raskólnikov, ao final de “Crime e Castigo”. Destino humano? Ou talvez a crítica ética do próprio Raskólnikov esteja démodé, soterrada por uma lógica perversa do mundo contemporâneo?
Onde está a verdade histórica? Ninguém sabe, ninguém viu...


Este Ensaio é uma extensão do texto publicado em 14/set/2014 em UM TRANSEUNTE – http://umtranseunte.blogspot.com.br -, muito em função do cenário político do país do qual sou filho e tento ser cidadão.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

SOBRE A COPA, A SELEÇÃO BRASILEIRA E O BRASIL...




Por Luan Lins

Vamos direto ao assunto...

Acho coisa de babaca atrelar o mérito de um país a uma seleção de futebol... É realmente "complexo de vira-lata" de quem tem apenas o resultado de um jogo pra se orgulhar ou não de um país... Taí algo a ser pensado: o único valor do Brasil é o futebol? Aparentemente, pra uma expressiva parte do país, a coisa é por este caminho mesmo...


Desde que a Seleção foi eliminada da copa, observa-se uma onda de depressão nacional  e desgosto por parte de uma maciça parte do país. A falta de técnica, tática e garra dos jogadores já foi atrelada a presidenta Dilma, que cá pra nós, acho que a única coisa que entende de futebol é quando se faz um gol... rs rs rs Da coitada da psicóloga que não teve a capacidade de preparar os jogadores emocionalmente para o jogo; Do Conselho de Psicologia por não preparar técnicas pro Brasil ser campeão na final... E os "bois de piranha" não param por ai...

Esse complexo de inferioridade, ou melhor, de "vira-lata" que circula em muitos indivíduos e que é reforçado pelos veículos de comunicação que estão a serviço de emitir uma imagem superficial  e monstruosa da nação, não seria tão grande e expressivo se tivéssemos conhecimento transcendente das reais potências do Brasil e de suas qualidades... O Brasileiro tem uma baixa-estima patológica... Não reconhece seu valor, não reconhece sua capacidade, tem vergonha de si e por não conseguir se enxergar, projeta as suas esperanças de vida, sucesso e felicidade num jogo que tem por função alienar e garantir o pão e circo diários... 


Não menosprezo o futebol e não acho se deveria, pois ele também faz parte da nossa identidade brasileira. O nosso país tem e teve craques que fizeram e fazem história por suas jogadas e suas conquistas. O que não compreendendo é resumir toda uma cultura, uma história, uma evolução a uma atividade recreativa de correr atrás de uma bola e acertá-la numa rede... Precisamos rever nossos valores e encarar o que realmente precisa da nossa atenção e preocupação, deixando de lado interesses superficiais. 

Pra mim está claro que o Brasil não precisa de jogadores, o Brasil não precisa de bolas, estádios e muito menos de uma depressão coletiva. Do que o Brasil precisa pra ontem, são pessoas, pessoas que o conheçam, que o reconheçam, que se reconheçam, que lute por ele, que dê o seu melhor, que faça uma boa e limpa política com transparência, sem corrupção (do pipoqueiro ao deputado), que melhore hospitais e escolas, que leve qualidade de vida a todos, que acabe com a miséria, que gere emprego e renda com bons salários... E que tenha coragem de olhar pra si e reconhecer seu valor... E isso só vai acontecer quando abrirmos de verdade os nossos olhos, olharmos pras sarjetas, pros interiores, favelas, cidades e sertões do país e vermos que a fome, a falta de moraria, água, saúde limitada, a ignorância, e o analfabetismo são as nossas principais chagas. Só assim, uma tristeza, uma amargura e uma depressão coletiva terão sentido e só assim vamos parar de projetar os nossos defeitos nos outros... Fora isso, é desperdício... 

Brasileiros, vão pra terapia!

domingo, 25 de maio de 2014

CRÔNICA DE UM SACRAMENTO




















Por Marcos InHauser 


Vão vivendo assim, juntos, entre bofetões, mútuas humilhações, chutes e xingamentos, tudo temperado por noites de transa quente – o amor limita-se ao quarto.
Ele, esfuziante, faz o tipo “tutti buona gente”, amigo pronto para qualquer parada. Padece, entretanto, de uma maldição de que “tem de ser bonzinho”, numa crença em busca de seu Paraíso particular. Certa humildade germinou-se dentro dele, provavelmente enraizada na relação com a mãe “tutti buona gente”. A humildade o empurra para trás e para baixo – uma sola furada no sapato, seu troféu. Justifica-se exageradamente.
Ela, ditadura encarnada, acredita piamente possuir “o Pênis”. Mas não o possui... Projetou um mundo de soberba, chiquérrimo, “Very Important Person”. Fechada em tono de si mesma, em sua mesquinhez, é odiada pelas costas, um vazio relacional completo, provavelmente ligado ao Pai que não houve. Justifica-se empobrecidamente.
Casal mais que perfeito, quando visto pelo ângulo masoquista. E assim vão vivendo, aos berros, aos apelos nunca satisfeitos de completude, que existe apenas dentro do quarto.
Não há segredos lá, na individualidade que necessita ser preservada. Um estranho escancaramento de intimidade, ao extremo – experiência que não é pra qualquer um, somente para os fortes de alma.
Tiveram, juntos, criancinhas... Ele, para poder se projetar o pai/mãe perfeito. Ela, não se sabe ao certo.

Na Conferência XXXII das “Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise”, de 1933, Freud, ao tratar da ansiedade e da vida instintual, apresenta resumidamente questões bastante relevantes sobre a relação entre o masoquismo, a necessidade instintual de punição e o supereu. Freud não deixa dúvidas quanto à cobrança punitiva do supereu, que germinando no inconsciente, vai assombrar o sujeito neurótico avassaladoramente, na direção de uma reparação sempre impossível.

Ele, satisfeitíssimo com a projeção de “um pobre coitado”, vai desenvolvendo uma hipocondria punitiva. A qualquer sinal de avanço em um ser maduro, sente a morte espreitar, observando-o à distância, esperando um momento de deslize... “Tutti buona gente”.
Ela, apaixonada eternamente pelo Pai que ama esbofeteando, cria uma soberba que, crescendo como tumor, vai isolando, diminuindo, aniquilando por completo a possibilidade de ser amada, posto não saber amar.

Freud já dizia que as coisas do Amor são melhor exploradas pelo poeta do que pelo analista. Cita-se, então, como preciso projeto de vida, Chico Buarque (1977/1978), ao final de “O Casamento dos Pequenos Burgueses”:

Ela esquenta a papa do neto
E ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo teto
Até que a morte os una
Até que a morte os una


MARCOS INHAUSER SORIANO é psicanalista.

sábado, 10 de maio de 2014

MÃES MÁS


Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes: Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
Eu os amei o suficiente para fazê-los pagar as balas que tiraram do supermercado ou as revistas do jornaleiro, e fazê-los dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar”.
Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto; tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
Eu os amei o suficiente para deixá-los assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes “não”, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em certos momentos, até odiaram).
Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci! Porque, no final, vocês venceram também! E qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:
Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo…
As outras crianças comiam doces no café, mas nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas.
As outras crianças bebiam refrigerante, comiam batatas fritas e tomavam sorvete no almoço, mas nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. E ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.
Ela insistia em saber onde estávamos a toda hora (ligava para o nosso celular de madrugada) e “fuçava” nossos e-mails. Era quase uma prisão!
Mamãe tinha de saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela “violava as leis do trabalho infantil”, pois tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todos esses trabalhos que achávamos cruéis. Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer no outro dia.
Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos.
A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer. E, enquanto todos podiam voltar tarde, à noite, tendo apenas 12 anos, tivemos de esperar até os 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata ainda se levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).
Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. FOI TUDO POR CAUSA DELA!
Agora, que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos “pais maus”, como minha mãe foi.
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: omissão. Falta de amor!

FONTE: http://formacao.cancaonova.com/familia/maes-mas/

quinta-feira, 1 de maio de 2014

EM TEMPOS DE BANANAS, DEMOS "BANANA" PARA O PRECONCEITO!


Por Walmilson Barros


A questão levantada essa semana foi muito pertinente em tempos onde associações desventuradas levam ao questionamento se estamos fazendo a coisa certa. A tal # (Hashtag) da semana seria #somostososmacacos ou #somostodoscontraopreconceito.....#nãoaoracismo, coisas do gênero. É de surpreender que até renomados autores como Emir Sader  terem entrado na “onda” de Neymar.

Essa associação negro/macaco não é de hoje, historicamente sabe-se que a linhagem é bem próxima dos hominídeos com os primatas não humanos, o projeto genoma está aí para não  deixar dúvidas apontando a bagatela de em torno de 90% de parentesco biológico e fenotípico também, isso é incontestável cientificamente. A questão ao meu ver é: por que o tal torcedor europeu se acha menos “macaco” que o sul-americano brasileiro representado na figura de Daniel Alves? Ainda estamos na égide do IMPERIALISMO? Da diferenciação cognitiva de “raças” onde um é civilizado e o outro é “bárbaro”? Ao que nos parece essa ideia está longe de acabar. Será que este torcedor europeu sabe dessas informações? Questiono mais: racismo deve ser associado a falta de informação?



São muitos os questionamentos, mas uma coisa é bem clara: devemos urgentemente buscar nossas raízes históricas para nos apegarmos àqueles que lutaram pelo fim do racismo, a intolerância em suas diversas nuances, não posso crer que em pleno século XXI a banana me sirva como  símbolo de luta, não a #banananãomerepresenta. Assim fazendo, apenas estamos acentuando algo já arraigado. Diante tantas opiniões que foram trazidas à tona nessa semana de bananada a que foi mais direta ao assunto foi a  Douglas Belchior, o autor do artigo foi curto e grosso: ao comer a banana Daniel Alves estava dando uma “banana” ao preconceito por ela o atingir indiretamente, sendo ele um jogador bem sucedido financeiramente? O ato de comer foi impulsivo ao momento vivido? Como resposta o jogador falou para rirmos do possível retardado, ponho uma hipótese para ser camarada com este torcedor europeu. Mas, como bem questionou Belchior o racismo de fato existiu, mas ele é social e de classe, logo um jogador das condições atuais como Daniel Alves não teria as mesmas preocupações e enfrentamentos dos Josés e Joões dos subúrbios brasileiros ao se defrontarem com o racismo.


Dentre tantas ideias e opiniões e aproveitamentos da situação, leia-se políticos de plantão, a questão deve ser levada a sério do sistema universitário a conversa de bar, até por que no Brasil se escolhe ser negro ou não por questões fenotípicas e a cada minuto sofremos com todo tipo de racismo, não só nós mas os negros do mundo como um todo, ou paramos para pontuar essa questão ou essa será apenas mais um episódio dentre tantos que o sucederam.

"...a questão deve ser levada a sério do sistema universitário a conversa de bar..."


segunda-feira, 7 de abril de 2014

POSSIBILIDADES DE CONTRIBUIÇÃO DO FARMACÊUTICO PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE





















O papel do Farmacêutico ao longo do século XX.
Os autores Hepler & Strand realizaram uma análise sobre os três períodos que consideramos mais importantes da atividade farmacêutica no século XX, definindo-o  como: o tradicional, o de transição e o de desemvolvimento da atenção ao paciente.

O papel tradicional foi desemvolvido pelo boticário que preparava e vendia os medicamentos, fornecendo orientações aos seus clientes sobre o uso dos mesmos. Era comum prescrevê-los.

Conforme a indústria farmacêutica começou a se desemvolver, este papel do farmacêutico paulatinamente foi diminuindo. Começa assim o período de transição. As atividades farmacêuticas voltaram-se pricipalmente para a produção de medicamentos numa abordagem  técnico-industrial.  Os países do Primeiro Mundo concentraram-se no desemvolvimento de novos fármacos, e o Brasil que possui um parque industrial farmacêutico predominante multinacional, trabalhou a tecnologia farmacêutica adaptando as fórmulas ás condições climáticas do país.

A publicação da Lei 5.991/73, que ainda está em vigor, conferiu ás atividades farmacêuticas um enfoque mercantilista. Qualquer enpreendedor pode ser proprietário de uma farmácia ou drogaria, desde que conte com um profissional farmacêutico que se responsabilize tecnicamente pelo estabelecimento.

Este é o marco da perda do papel social desenvolvido  pela farmácia.
O estabelecimento comercial farmacêutico voltou-se para o lucro e o farmacêutico começou a perder autonomia para o desempenho de suas atividades. O farmacêutico passou a atuar como mero empregado da farmácia ou drogaria, perdeu o respeito da sociedade e refugiou-se em outras atividades, distânciando-se do papel de agente da saúde. Com isso, apliaram-se os espaçoes para a betenção de lucro desenfreados através da ‘’empurroterapia’’ e da propaganda desmedidas.

O medicamentos passou a ser visto como uma solução ‘’mágica’’ para todos os problemas humanos, assumindo o conceito de bem de consumo em detrimento ao de bem social.

Mas enfim, o farmacêutico em meio a uma grave crise de idêntidade profissional iniciou sua reação fazendo nascer nos anos 60 a prática da fármacia clínica. Passou a se conscientizar do seu papel para a saúde pública. A prática farmacêutica orienta-se para a atenção ao paciente e o medicamento passa a ser visto como um meio ou instrumento para a se alcançar um resultado, seja este paleativo, curativo ou preventivo. Ou seja a finalidade do trabalho deixa de focar no medicamento e parte para o paciente.

O lamentável desastre ocorrido em 1962 em virtude da talidomida por gestantes, ocasionando uma epidemia de focomelia, desencadeou um novo olhar sobre o uso de medicamentos e foi marco para o surgimento das ações de farmacovigilância. Passou-se então ao período de desenvolvimento da atenção ao paciente. Os países começaram a se preocupar com a promoção do uso racional de medicamentos.

No Brasil a partir de meados de 1990 a presença marcante  das ações dos conselhos de farmácia e vigilância sanitária em estabelecimentos comerciais farmacêuticos está mudando o panorama nacional.

Hoje mais do que nunca é possível encontrar farmacêuticos desempenhando suas funções dentro das secretárias municipais de saúde, mas o número de profissionais está muito aquém das reais necessidades. Ainda não está garantida a sua presença em todas as unidades básicas de saúde, mesmo existindo dispositivo legal que determine isso.

No entanto temos que refletir que mudanças estão ocorrendo e que acenam para a melhora dos serviços oferecidos pela população.


A prevenção e o tratamento de doenças exigem infra-estrutura adequada, assim como educação apropriada. Após estas medidas, os medicamentos e as vacinas têm o potêncial de conferir grandes benefícios à população. No entanto o simbolismo de que se revestem os medicamentos na sociedade tem contribuido para a utilização irracional dos mesmos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos(Sobravime). O medicamento como parte do complexo médico-industrial influi na percepção da saúde e da doença, tanto nos profissionais de saúde quanto na sociedade. O medicamento não se apresenta sozinho – como substância química – mas está acompanhado por um cotejo de publicidade, informação, brindes, estudos etc., que vai configurando uma forma de pensar.

Mais adiante, a Sobravime complementa: a medicalização de um número crescente  de problemas da vida não constitui apenas um processo individual em que o futuro consumidor de cuidados médicos se convence de que se encontra na anormalidade. Trata-se também de um fenômeno coletivo próprio  das sociedades em crescimento que criam uma raridade do normal, afirmando que este é melhor.

A medicalização de aspectos da vida chega a ter dimensão tal, que hoje um novo conceito envolvendo medicamentos começa a ser utilizado: ‘’fármacos do estilo de vida (lifestyle drugs)’’. Este termo conforme a definição de Flower, diz respeito aqueles usados para satisfazer a objetivo não médico ou não relacionado à saúde.

É preocupante esta forma de aceitação dos medicamentos pela sociedade, tendo em vista o volume de produtos farmacéuticos comercializados. Dados da Associação Brasileira de Redes de Fármacias e Drogarias referem que em 2003 estes estabelecimentos venderam aproximadamente 3,6 bilhões de reais em medicamentos, contabilizando um total de 260 mil clientes atendidos e 669 milhões de unidades vendidas.

Estima-se que nos EUA as reações adversas a medicamentos sejam a quarta ou sexta causa de morte em hospitais, excendendo as mortes causadas por pneumonia e diabetes. A morbimortalidade  por esta causa é considerada comum e o custo estimado é de ordem de 136 bilhões de dólares ao ano.

Uma revisão sistemática sobre os atendimentos de emergência relacionados ao uso de medicamentos considerou dados de oito ensaios retrospectivos e quatro prospectivos. Os resultados indicaram que 28% de todos os atendimentos de emergência estão relacionados aos medicamentos. Destes atendimentos 70% diziam respeito a situações evitáveis e 24% deles em internação hospitalar.


Estas mesmas pesquisas revela que o problema mais comuns relacionados a medicamentos são: as reações adversas, a não aderência ao tratamento e a prescrição inadequada.


Por Felipe Lira, estudante de farmácia na Faculdade Pernambucana de Saúde