Por Walmilson Barros
Voltando
de mais um dia de trabalho me deparo com a história frente a frente, depois de
um longo dia de aula que, como sempre, tenho que me transformar em mil passando
de um mundo antigo a uma pós modernidade no mesmo dia e falando para cabeças
com formações diferenciadas, eis que me confronto com meus conhecimentos.
Pego
o bom e velho busão e vejo um senhor fustigado, exaurido depois de mais um dia
de trabalho. Sua função? Vendedor de cocada. Uma forma de ganho de vida tão
comum no período colonial que permanece até os dias atuais como um mecanismo de
sobrevivência. Deparando com aquela imagem do velho senhor hiper cansado um
monte de imagens sobrevieram e não tinha como não fazer a correlação com a aula horas mais cedo, falamos sobre os
povos escravizados e como era sua forma de trabalho, suas formas de
resistências, e como até os dias atuais os trabalhos mais subalternos estão
praticamente presos aos negros (pardos+pretos), isso denota o quanto ainda
temos no Brasil em rever conceitos, formas de organização social que interferem
na dignidade humana, não que um trabalho de vendedor de cocadas não seja digno,
não é isso, mas a população negra merece chegar nessa idade (o senhor
aparentava ter um setenta anos) com condições de aproveitar a vida, descansar
depois de ter contribuído dentro de suas condições.
O
tabuleiro me chamou atenção por que ele sempre esteve associado ao papel
feminino na colônia com a quitandeiras, as baianas, hoje em pleno século XXI
temos muitos desses vendedores que representam um resquício do período onde
fica quase restrito ao trabalho realizado pela população negra. Outra
observação gritante nesse processo trabalho/negros é a sua inserção no mercado,
ainda é irrisória a participação deles em vários setores, é muito fácil fazer
tal observação, basta olharmos os trabalhadores de shopping center, onde estão
os negros? Lá também não são vendedores? Ao que observamos, não! Estão em
grande maioria reservados ao trabalho braçal em copas e serviços de limpeza,
quando não e estão em atendimento são como figuras estigmatizadas para “chamar”
atenção”, como figuras “exóticas”. Do tabuleiro colonial ao shopping center
moderno continua a velha e triste da segregação étnica Brasil, seja na rua ou
em centros de compras fechados estão lá os negros prestando seus serviços.