Por Luan Lins
Acredito
que o sonho de grande parte do estudantes de psicologia é chegar ao momento da
prática e colocar em ação, tudo aquilo que foi estudado durante madrugadas e
fins de semana a fio, onde se é abdicado das festas, viagens, passeios e outros
aparatos sociais aos quais temos que suspender em prol da nossa formação.
Comigo não é diferente. Atualmente estou no oitavo período do curso de Psicologia,
e na instituição onde estudo, iniciamos a prática curricular no oitavo período.
Esta prática é a do Plantão Psicológico. O plantão não é uma modalidade usual e
padrão para todos os cursos, porém, deixarei nas referências, artigos que falam
um pouco sobre esta modalidade. De forma pontual, Tassinari define o plantão
psicológico da seguinte forma:
“Em uma primeira aproximação pode-se definir o
Plantão Psicológico como um tipo de atendimento psicológico, que se completa em
si mesmo, realizado em uma ou mais consultas sem duração pré-determinada,
objetivando receber qualquer pessoa no momento de sua necessidade para ajudá-la
a compreender melhor sua emergência e, se necessário, encaminhá-la a outros
serviços. Tanto o tempo da consulta, quanto os retornos dependem de decisões
conjuntas (plantonista/cliente) no decorrer do atendimento.” (2001, p. 2)
É
no plantão, onde temos o nosso primeiro contato com o cliente, e para isso, é
necessário muito estudo, supervisão e psicoterapia. É essa tríade que vai nos
dar condições pra o atendimento.
Inicialmente
fui tomado pela ansiedade de chegar a clínica e atender logo, mas descobri que
não funciona assim. Sempre tive comigo o pensamento de que psicologia –seja ela
qual for a atuação- tem um papel importante e sua intervenção é como se fosse
um instrumento utilizado por um neurocirurgião, onde deslizes podem afetar a
vida do cliente em diversos níveis. Acho que nem preciso dizer, que o senso de
responsabilidade aumenta bastante e que no meu caso, beneficamente me faz
pesquisar mais e preencher algumas lacunas que ficaram abertas durante a minha
formação. Ai, entra o papel importantíssimo da supervisão. Acho que minha
supervisora tem sido essencial para a minha preparação. Nos estudos e reflexões
sobre os textos e temas abordados durante os encontros.
Durante
os momentos de estudo e supervisão, tem ficado muito claro pra mim, que a minha
ansiedade é basicamente pelo fato de querer falar, de orientar, de resolver, em
fim. Mas, ela tem abrandado bastante, principalmente quando eu aprendo que na
relação com o cliente, eu preciso colocar as teorias, convicções e valores no
bolso e suspender (redução fenomenológica), e apenas escutar. Escutar, o que
difere do ouvir. Escutar é estar focado e ativo no conteúdo trazido pelo
cliente. Existem relatos teóricos que evidenciam a mudança e o impacto positivo
que o ato de escutar causa no outro. Confesso que isso é lindo, mas, é
necessário muito trabalho pessoal para que a suspensão dos valores seja feita
de forma correta e a escuta seja verdadeira. Daí, a importância da
psicoterapia. Acho que está claro pra todos os estudantes e profissionais que a
psicoterapia é fundamental em todo o processo – se você não está, que tal começar?
-, pois ela te dá suporte para lidar com os conteúdos trazidos pelos clientes. Desde
então, muita coisa tem mudado, dentre elas, o meu pensamento em relação ao
cuidado do outro. É no plantão onde a visão unicamente ‘diagnóstica’ e
‘curativa’ é descontruída. Chegamos muitas vezes focados na patologia e na
“cura”. E acredito que seja importante frizar, que não é papel do psicólogo curar. O psicólogo atua como facilitador
da compreensão das queixas do cliente e é o cliente que vai orientar todo o
processo.
Bom,
estou subindo os degraus e já, já estarei no atendimento do plantão. Confesso
que dá uma friezinha no estômago pensar como será o primeiro atendimento, mas
estou disponível e aberto para me aproximar do self do cliente e ajuda-lo na compreensão das suas queixas e
demandas e contribuir para que ele encontre estratégias para o seu pleno
desenvolvimento e progresso.
Em
breve escreverei um pouco sobre as minhas impressões do primeiro atendimento e
como tem se desenrolado os processos do plantão e supervisão.
Referências
TASSINARI,
Marcia Alves. Plantão Psicológico: atendendo no momento da necessidade. In VIII
Colóquio de Sociologia Clínica e Psicossociologia. UFMG, 2001.
MORATO,
HenrietteTognetti Penha(Org.). Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: aprendizagem
significativa em ação. In Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios.São
Paulo, Casa do Psicólogo, 1999, p.33-43.
MAHFOUD,
Miguel. A Vivência de um desafio: plantão psicológico. In Rosenberg, R.L.
(org.), Temas Básicos em Psicologia. São Paulo:E.P.U, pp.75-83, 1987.
LIMA,
Elizandra Ferreira. Plantão Psicológico. Recife, UFPE, Trabalho de Monografia.
Cap. 2.