sexta-feira, 22 de abril de 2016

A POLÍTICA DO ESPELHO: UM PENSAMENTO SOBRE AS RELAÇÕES ESPELHADAS NA ATUALIDADE BRASILEIRA
























Por Gilberto Souza



Segundo Hannah Arendt, na modernidade a negação da pluralidade tornou sociedade ocidental apolítica. Stuart Hall por sua vez, considera que na pós-modernidade as identidades são políticas. Bem, tanto Arendt quanto Hall, concluem que na contemporaneidade, a sociedade ocidental tem enfrentando uma grande dificuldade em conceber o outro em sua singularidade, negando assim a possibilidade de qualquer expressão que seja contraria a sua, alimentando assim o discurso de ódio. Qual o perigo disso? A negação do EU.


A teoria psicanalítica - seja qual for a orientação - nos mostra o quanto a presença do outro é importante para a nossa formação enquanto sujeito. Juntamente com o outro podemos manifestar nossas maiores potencialidades e experienciar as mais belas manifestações do que chamamos de existência. Pois bem, quando não aceitamos a singularidade e as peculiaridades do outro negamos a sua história e consequentemente negamos esse sujeito. Freud pensando nessa relação EU-OUTRO/CULTURA escreveu o livro "Psicologia das massas e analise do eu" e por meio deste livro podemos compreender os perigos das relações espelhadas.


Para Freud, o que une e caracteriza a massa é o discurso emocionado do líder- e o que não falta para a sociedade brasileira são líderes, os nossos parlamentares deram vários exemplos votação do impeachment. A FAMÍLIA - modelo ideal de família -, Mãe, filho, TORTURADORES, MARIDO CORRUPTO, "DEUS", assim como a ciência dentre outros são exemplos de figuras ao qual a sociedade brasileira tem servido. Em decorrência disso temos visto os brasileiros se organizar de forma coercitiva. Qualquer construção de narrativa que seja contraria a ao que se pensa, é hostilizada - isso por ambas as partes -, possibilitando a criação de grupos e polarizações, um sintoma disto foi o " muro do impeachment".


Segundo Freud, o indivíduo na massa consegue desenvolver potencialidades que no cotidiano, em sua individualidade, não aparecem por conta da repressão moral. Na massa, o indivíduo sente-se mais forte e movido pelo discurso emocionado do líder faz com que a massa se una em prol do seu desejo. Seu comportamento inconsequente pode levar a catástrofes.


A polarização dos grupos movida pelo gozo das massas tem nos levados a consequências incalculáveis. Agressões verbais e físicas têm assumido o lugar da palavra e da escuta. A polarização e a energia que tem movido essas grandes massas inconsequentes tem impossibilitado o engajamento e a responsabilidade dos sujeitos enquanto cidadãos, alimentando assim o discurso de ódio e o apagamento do outro.



Fiquemos com então com Arendt: “ É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e essa inserção é como um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico original...seu ímpeto decorre do começo que vem ao mundo quando nascemos e ao qual respondemos começando algo novo por nossa própria força iniciativa. Agir, no sentido mais geral do termo, significa tomar iniciativa...”. Sobretudo, tomemos a iniciativa Freudiana, a iniciativa da escuta, talvez assim possamos construir juntos uma nova logica dentro dos discursos desencontrados.

Um comentário:

  1. Excelente texto. Acredito que a sociedade tal como se encontra, necessita com urgência de psicoterapeutas bem formados, que consigam assumir a missão de devolver aos indivíduos sua singularidade, espontaneidade, criatividade, etc. Mas acredito que "formar bons terapeutas" é um desafio quase gigantesco pra psicologia que temos hoje que é tão engessada pelo positivismo, por um modelo de ciência reprodutor desse sistema social que estamos falando. Interessante a psicanálise trabalhar nesse sentido, e como ela existem abordagens como o psicodrama, a histórico-cultural que tbm atuam com essa perspectiva: A de compreender a conjuntura social formando subjetividades (no caso da historico-cultural).

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