Por Gilberto Souza
Segundo Hannah Arendt, na modernidade a negação da pluralidade tornou
sociedade ocidental apolítica. Stuart Hall por sua vez, considera que na pós-modernidade
as identidades são políticas. Bem, tanto Arendt quanto Hall, concluem que na
contemporaneidade, a sociedade ocidental tem enfrentando uma grande dificuldade
em conceber o outro em sua singularidade, negando assim a possibilidade de
qualquer expressão que seja contraria a sua, alimentando assim o discurso de
ódio. Qual o perigo disso? A negação do EU.
A teoria psicanalítica - seja qual for a orientação - nos mostra o
quanto a presença do outro é importante para a nossa formação enquanto sujeito.
Juntamente com o outro podemos manifestar nossas maiores potencialidades e
experienciar as mais belas manifestações do que chamamos de existência. Pois
bem, quando não aceitamos a singularidade e as peculiaridades do outro negamos
a sua história e consequentemente negamos esse sujeito. Freud pensando nessa
relação EU-OUTRO/CULTURA escreveu o livro "Psicologia das massas e analise
do eu" e por meio deste livro podemos compreender os perigos das relações
espelhadas.
Para Freud, o que une e caracteriza a massa é o discurso emocionado do
líder- e o que não falta para a sociedade brasileira são líderes, os nossos
parlamentares deram vários exemplos votação do impeachment. A FAMÍLIA - modelo
ideal de família -, Mãe, filho, TORTURADORES, MARIDO CORRUPTO, "DEUS",
assim como a ciência dentre outros são exemplos de figuras ao qual a sociedade
brasileira tem servido. Em decorrência disso temos visto os brasileiros se
organizar de forma coercitiva. Qualquer construção de narrativa que seja
contraria a ao que se pensa, é hostilizada - isso por ambas as partes -,
possibilitando a criação de grupos e polarizações, um sintoma disto foi o
" muro do impeachment".
Segundo Freud, o indivíduo na massa consegue desenvolver potencialidades
que no cotidiano, em sua individualidade, não aparecem por conta da repressão
moral. Na massa, o indivíduo sente-se mais forte e movido pelo discurso
emocionado do líder faz com que a massa se una em prol do seu desejo. Seu
comportamento inconsequente pode levar a catástrofes.
A polarização dos grupos movida pelo gozo das massas tem nos levados a
consequências incalculáveis. Agressões verbais e físicas têm assumido o lugar
da palavra e da escuta. A polarização e a energia que tem movido essas grandes
massas inconsequentes tem impossibilitado o engajamento e a responsabilidade
dos sujeitos enquanto cidadãos, alimentando assim o discurso de ódio e o
apagamento do outro.
Fiquemos com então com Arendt: “ É com palavras e atos que nos inserimos
no mundo humano; e essa inserção é como um segundo nascimento, no qual
confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico
original...seu ímpeto decorre do começo que vem ao mundo quando nascemos e ao
qual respondemos começando algo novo por nossa própria força iniciativa. Agir,
no sentido mais geral do termo, significa tomar iniciativa...”. Sobretudo,
tomemos a iniciativa Freudiana, a iniciativa da escuta, talvez assim possamos
construir juntos uma nova logica dentro dos discursos desencontrados.
Excelente texto. Acredito que a sociedade tal como se encontra, necessita com urgência de psicoterapeutas bem formados, que consigam assumir a missão de devolver aos indivíduos sua singularidade, espontaneidade, criatividade, etc. Mas acredito que "formar bons terapeutas" é um desafio quase gigantesco pra psicologia que temos hoje que é tão engessada pelo positivismo, por um modelo de ciência reprodutor desse sistema social que estamos falando. Interessante a psicanálise trabalhar nesse sentido, e como ela existem abordagens como o psicodrama, a histórico-cultural que tbm atuam com essa perspectiva: A de compreender a conjuntura social formando subjetividades (no caso da historico-cultural).
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